02/04/2009

A Primeira Iniciação - O Nascimento


Tânia Gonçalves de Araújo


As iniciações são etapas definidas do desenvolvimento humano em direção ao mundo
espiritual.
A palavra iniciação vem do latim ‘iniciare “que se deriva do sufixo "in” significando para
dentro e “ire” — ir, isto é, ir para dentro ou penetrar no interior.
Da etimologia depreende-se que iniciação é o ingresso ao mundo interno, o começo de uma
nova vida.
Morya diz que a iniciação moderna deve ser expressa pela palavra educação que vem do latim
“educere” que significa extrair, tirar, desenvolver.
Conjugando as duas palavras —
iniciação e educação — temos uma busca interior que traz para o mundo o que está escondido — a Luz que segundo o Evangelho deve ser colocada sobre o alqueire para que todos a vejam.

Jorge Adoum diz que a porta para o mundo interno é o coração; o Mestre Morya dedica um
livro inteiro ao tema iniciando assim: “Ver com os olhos do coração, ouvir o ruído do mundo com os ouvidos do coração”, assim se percorre o caminho da ascensão.

O homem, filho pródigo do Pai Celestial, vem ao longo dos milênios alimentando-se dos
prazeres da matéria mas dentro de seu coração uma voz silenciosa o tem chamado com insistência para voltar ao seu lar.

O aspirante é aquele que ouve a voz do coração e acende neste centro a estrela de Belém do
Cristo. Há dois mil anos o Cristo esteve entre os homens como um de nós na pessoa do Mestre Jesus e exteriorizou a luz em modos de conduta para que todos vissem como é agir como a alma na Terra. Assim, o Mestre Jesus, o Cristo se torna o maior educador de todos os tempos, influenciando toda a humanidade com uma nova forma de viver expressando a qualidade Amor-Sabedoria.

Estamos no limiar de uma Nova Era com a humanidade pronta para a primeira iniciação — o
nascimento do Cristo no coração. No desenvolvimento da consciência crística está a solução dos problemas mundiais pois o reino de Deus está em rápida formação na Terra.
A iniciação é o resultado do magnetismo existente entre Deus e o homem. “Existe um desejo
humano por Deus; mas há também um desejo divino pelo homem”. Esse encontro do homem com seu Deus interno é a 1ª iniciação. O que chamamos Deus, o espírito, necessita da matéria e esta do espírito. Essa dinâmica que liga o Filho do Homem e o Filho de Deus foi demonstrada de forma incontestável na vida de Jesus, que deu significado divino ao viver cotidiano.

As 5 iniciações do Cristo (nascimento, batismo, transfiguração, ressurreição e ascensão)
são os grandes acontecimentos da vida do Cristo e possuem um significado prático para toda a humanidade.
O pensamento-chave da 1ª iniciação, objeto deste estudo, foi dado pelo próprio Cristo:
“Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”.
O nascer de novo consiste em nos apossarmos de nossa divindade e manifestá-la.

A iniciação
é uma série gradual de expansões de consciência e a 1ª iniciação revela ao homem suas duas naturezas: a superior e a inferior. Essa consciência da dualidade foi expressa por São Paulo como: “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço”, traz ao iniciante grande sofrimento e um complexo de culpa a ser evitado.

A iniciação deve ser encarada como uma grande experimentação, uma revelação de amor
expressa em sabedoria, com ênfase na iluminação mental e na percepção intuitiva, tal como o Cristo demonstrou. A bondade é uma condição necessária, mas não suficiente para a iniciação, pois nem todo homem bom é um iniciado.

Embora muitos aspirantes procurem um Mestre para lhes dar a 1ª iniciação, Tibetano nos
assegura que o primeiro grande iniciador é sempre a própria alma, pois é esta que abre nossa consciência para outras dimensões. O que esteve gerando-se lentamente no homem, aparece, e ele compreende o sentido interno das palavras do Cristo — “Necessário vos é nascer de novo” —e como uma criança ele nasce no Reino de Deus, isto é, adquire novo estado de consciência. O Reino de Deus, ocorre depois do homem fazer uma longa caminhada.

Nascer neste Reino é tão inevitável quanto o nascimento na família humana. Cristo fez referência aos nascidos neste reino ou novo plano de consciência quando diz: “Deixai vir a Mim os pequeninos pois deles é o Reino dos Céus”.
Com este novo nascimento, a consciência crística no homem começa a manifestar-se
na Terra, etapa após etapa, e graças ao domínio crescente das leis do reino espiritual a personalidade passa a ser útil para seu dono — a Alma.
O homem então caminha na luz da
alma, serve ao semelhante e obedece à Voz interna que só é escutada quando as muitas vozes da personalidade silenciam pelo encontro com Deus na caverna do coração. O discípulo então experimenta a afluência do Amor Divino e se sente uno com tudo que existe, nascido como uma criança no Reio dos Céus e vencendo a separatividade e o egoísmo que nortearam sua vida até então.

O aparecimento do Cristo há 2.000 anos na caverna em Belém marcou a inauguração da
possibilidade de um novo ciclo de desenvolvimento espiritual, tanto para a humanidade, como para o indivíduo. Estamos agora à beira do nascimento do Cristo racial. Gradualmente fomos preparados para subir um novo degrau na escala evolutiva, passar para o andar superior, como previu o Cristo por ocasião da Páscoa ao preconizar a Era de Aquário.

O que ocorre no mundo hoje nos assusta, mas trata-se de processo de destruição temporária
para uma mais perfeita reconstrução, tal como acontece com o discípulo individual que passa por duras provas ao se preparar para a iniciação. Agora é a vez da humanidade como um todo passar pela grande prova prevista pelo Cristo quando disse “haverá choro e ranger de dentes”. Caberá a nós prolongar a crise ou abreviá-la conforme o grau de nossa sintonização com o Plano Divino.

Para esse momento a humanidade vem se preparando através das diferentes religiões, e o
cristianismo é a máxima preparação para a próxima revelação da divindade, sendo o Cristo, o Avatar de duas eras consecutivas — a de Peixes e a de Aquário.

A primeira iniciação pode ser estudada por vários aspectos mas escolhi o aspecto do Verbo
ou Palavra.
Cada era tem a Palavra de Poder que a norteia e sustém. Há 2.000 anos, o Cristo, o Verbo
Divino se fez carne e em torno deste centro dinâmico de energia espiritual, gravita a humanidade. Tal como está no Evangelho de João “No princípio era o Verbo (o Som Criador, a Palavra). Todas as coisas foram feitas por Ele. Este princípio pode ser o Gênesis ou as renovações periódicas ou iniciações. A Terra se renova com a chegada de uma nova Era, quando a vida ressurge sob novo enfoque que garante o crescimento evolutivo do planeta. “Eu torno novas todas as coisas”, diz o Ensinamento.

Agora uma outra palavra da vida para uma nova Era foi emitida do Centro nos Céus e deverá
ressoar em todo coração humano. O coração é o ponto central, o Sol existente desde o mais amplo Sistema Cósmico até o minúsculo átomo.
Nossa prática diz “Um alinhamento de corações é o caminho de retorno para o Reaparecimento
do Cristo”. Os corações ou pontos centrais são o olho do furacão onde existe a Paz e quando sintonizado propicia o reaparecimento do Cristo.
Cada um deve ouvir no coração a Palavra e assim passa pela experiência de saber que é o
“Verbo feito carne”, e então a experiência do Cristo em Belém se torna parte de nossa consciência individual — o mito se torna a mais estupenda realidade em cada um — o Cristo ou Alma, expressando-se em nós.

Idade após idade, a mensagem para a evolução é dada aos homens.
Após a mensagem do Deus
justiceiro, “do olho por olho” dada por Moisés, e da mensagem da iluminação vivenciada pelo Buda, vem o Cristo que vive o Amor e dá o novo mandamento — “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Cristo realçou o valor do indivíduo através do ensinamento contido na expressão “Eu Sou” e disse “Vós sois deuses”. A visão do Deus transcendente foi acrescentada a do Deus imanente, explicitada no século XX pelo Mestre Saint Germain.

“Cristo pregava e fazia. Às vezes até fazia antes para depois explicar suas intenções. É
difícil separar Sua mensagem de sua prática. Por isso não estruturou um sistema filosófico escrito e fechado”. “Cristo manda cumprir a lei, porém declara que a lei não basta, porque as regras fixas não funcionam; a vida não cabe nelas. Seus seguidores devem ir muito além da lei, porque ela às vezes não é suficiente ou tem que ser mudada para preservar a vida e a justiça. O homem não foi feito para a lei, mas a lei é para servir ao homem, diz o Ensinamento.
Com Sua mensagem de amor e valorização do indivíduo Cristo trouxe Deus para junto do homem
e o homem para junto de Deus. Deificou o homem e humanizou Deus. As lições de “vós sois deuses” e “tudo aquilo que eu fizer vós podereis fazer e mais ainda” foram magistralmente ensinadas pelo Cristo.

O mundo se renova a cada era graças à Palavra de Poder emanada do Avatar. Tibetano diz que
isto é o que o Cristo quis dizer no “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Um caminho aberto à evolução infinita. Os 4 evangelhos não esgotam sua mensagem de Avatar que vem sendo reescrita por cada um de nós, seus seguidores e pelos Mestres de Sabedoria, tornando suas palavras sempre novas e adaptáveis aos vários tempos. Cristo fez crescer o nível de consciência da humanidade através de um grande salto de comportamento ético resultante da elevação espiritual que imprimiu ao planeta e que preparou o terreno para a Era de Aquário.

No passado alguns poucos seguiram o Cristo, na atualidade, as multidões estão numa viagem
de retorno a Belém — individual e racial — e o Ensinamento do Caminho absorve a atenção dos aspirantes do mundo. Uma etapa da vida da humanidade está se completando e multidões estão a ponto de penetrar na caverna do coração onde acontecerá o novo nascimento. Assim como a viagem de Maria, terminou numa caverna, também a humanidade atual termina sua longa viagem da Era de Peixes — numa caverna escura — o mundo atual com seus problemas e crises — anunciadores das dores do parto de um novo nascimento, uma nova consciência e um novo modo de viver para toda a humanidade.

O Mestre Morya em Mundo Ardente III assim se refere ao momento atual:
“O Mundo está cheio de úlceras dos vícios humanos. Nos dias de destruição e de reconstrução
do Mundo, o importante é afirmar os princípios, e ponderar sobre como destruir as distorções.
O Macrocosmo quando estremece, evoca em seu microcosmo vibrações idênticas. O
equilíbrio é estabelecido quando as energias de unificam no espaço. Quando os fogos subterrâneos supraterrestres estão enfurecidos, é necessário cautela. O centro da Terra está tenso. O intercâmbio de energias pode ser alcançado pela vontade humana. O Mundo está necessitando de reconstrução. A purificação é indispensável. O Fogo do espírito e do coração afirmarão um mundo novo. Um milagre está à porta. Assim, construamos. A consciência impelida aos Mundos Superiores é capaz de haurir do tesouro do Cosmos. Este é o trabalho do Agni logue. Aqueles que afirmam que o homem é limitado em sua manifestação fecham todas as possibilidades. A atração das Energias do Espaço é a base da Criatividade pois os registros do espaço e as energias podem ser intensificadas pela atração consciente. O homem é uma fonte de conhecimento e o mais poderoso transformador das forças cósmicas. O símbolo do transformador deverá habitar no coração. Neste tempo de obstrução mundial, existe, apenas um caminho de regeneração do pensamento — o despertar da consciência, a Alma, o Cristo interno na caverna do coração. Não se pode subir a Montanha com os restos do ontem, nem atravessar os Portões de Luz sem ligar-se ao Futuro luminoso”.

Hoje nos damos conta que existem no mundo duas correntes de atividade: de um lado a
consciência separatista, do outro a aplicação da mensagem do Cristo determinando mudanças. A existência do Filho de Deus e do Filho do Homem precisam ser conjugadas; a radiação da luz branca da alma penetra na condição humana e a Hierarquia e o Reino de Deus estão emergindo nas mentes e corações humanos.

“Para o firme estabelecimento da Lei, Eu volto a nascer, idade após idade” ensina Krishna.
Na plenitude do tempo aparece o Cristo cuja mensagem sintetiza a cultura do passado e proclama o futuro.
Tibetano ensina que o Ashram da Síntese — formado pelo triângulo dos três Mestres, Morya,
Djwal Kuhl e Racocksi (ou Saint Germain) está encarregado de auxiliar o Cristo no coração da Hierarquia, a inaugurar uma nova vida na Terra. À mensagem da fraternidade ensinada há 2.000 anos se agrega o conceito de síntese como união de indivíduos entre si, nações com nações como expressão do Amor ensinado pelo Cristo. Agni Ioga fala ainda da união entre os mundos físico, Sutil e o Mundo Ardente ou Espiritual. Tudo isso ocorre a partir da união da personalidade com a Alma pois os tempos são chegados.

Que podemos fazer?
Estudar os Ensinamentos do Cristo e daqueles três Mestres — Morya,
Tibetano e Saint Germain que a Fundação Cultural Avatar disponibiliza através da divulgação dos livros. Seus estudos fornecem mais elementos para cumprir os mandamentos do Cristo, amando e servindo uns aos outros como Ele ensinou e buscando no Mundo Ardente as energias que purificarão o planeta. A meditação individual e grupal são formas de captação das energias para a purificação. O mundo está se renovando pela nova Palavra de Poder — a Síntese — sendo o Cristo também o Avatar desta Era de Aquário que se inicia. Um caminho de vida mais abundante está aberto à evolução infinita, mas não nos esqueçamos que isto deve ser feito “por pés e mãos humanos” pois o homem é o grande transformador de seu mundo.

Termino com o § 318 de Mundo Ardente III:
“A atual condição do Mundo corresponde às sedimentações que a humanidade acumulou. A
manifestação da correspondência pode afirmar aqueles ciclos que estão começando; neles se refletirão todas as explicações do Carma, e cada ciclo introduzirá seu novo passo. Falando sobre ciclos, devemos ter em mente a transferência da conformidade cósmica. Consideremos a expiação precisamente como construção ardente. Esses ciclos serão estabelecidos por três causas: a transmutação de velhas acumulações, a purificação do espaço e a preparação de um grande futuro. A transmutação já começou. E como os monstros se erguem do fundo do mar, assim está aparecendo todo o lixo das entranhas da plebe. Na Fornalha do Cosmos muito está sendo fundido para a construção útil. Os esforços na transmutação atrairão cada ação cármica. A condição do planeta cria um Carma inevitável, tecido pelas engendrações da humani-dade. Mas no caminho para o Mundo Ardente, é preciso lembrar que a purificação do espaço trará um grande futuro.

Bibliografia:
De Belém ao Calvário, Bailey, Alice
O Reaparecimento do Cristo, Tibetano
Evangelho
As Chaves do Reino interno, Adoum, Jorge
Mundo Ardente III — Morya
Cristãos no Século XXI — Haroldo Vinagre Brasil — Ed. Dunep

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